É DO BRASIL!!! LUCIANA PRETTA — Da Terra à Tela, da Bahia à Europa

De mãos que tingiam muros com carvão e sumo de flores no sertão baiano até os salões de arte contemporânea em Roma, Luciana Pretta constrói uma trajetória tão singular quanto potente. Com uma sensibilidade visceral e uma estética que transita entre o naïf e a abstração, a artista brasileira – que hoje

vive na Itália – transforma suas raízes e inquietações em obras que falam diretamente ao inconsciente coletivo.
Nesta conversa exclusiva com a Revista Interagi, Pretta compartilha memórias, processos e visões sobre arte, identidade e pertencimento. Tudo isso com a doçura tímida e a força "caparbia" (como dizem os italianos) de quem ousa existir com autenticidade no mundo.
“Quando quero algo vou em busca, não ligo para os obstáculos. Mesmo assim, sou muito insegura — o que dificulta a viagem.”
Luciana conta que seu encontro com a arte começou cedo, ainda criança, quando desenhava com carvão nos muros da roça onde morava com os pais. “O sumo de flores e plantas muitas vezes eram as minhas tintas”, relembra. Influenciada por duas avós ligadas à terra – uma filha de indígena, a outra rezadeira – Luciana carrega até hoje essa conexão profunda com o natural, o simbólico e o sagrado em suas criações.

Arte como infância e liberdade
Sua linguagem artística é marcada pela leveza do lúdico, pela pureza do olhar infantil. “Me interessa a linguagem infantil, uma estética desprendida de valores sociais, mais pura e espontânea”, explica. Um ponto central de sua pesquisa é a busca por uma arte sustentável e libertadora: “Talvez a mensagem que busco transmitir seja o desprendimento de imposições sociais.”

A psicanálise também encontra espaço em seu processo criativo: os estudos sobre arquétipos de Carl Gustav Jung influenciam diretamente sua produção. Mas nada nela é rígido ou excessivamente técnico. Tudo pulsa com uma liberdade rara — como se cada pincelada fosse um mergulho nas memórias, nas emoções e no inconsciente coletivo.

Do Sul Global para o mundo

Para Luciana, retornar a expor no Brasil e perceber que seu trabalho toca outras pessoas é uma experiência emocionalmente gratificante.


E alcançar o cenário europeu, com uma exposição pessoal em uma galeria profissional em Roma, é a realização de um sonho.

“Este ano, nós do Sul global fizemos um enorme passo. Um marco histórico para as artes. Entramos como protagonistas, alargando fronteiras impensáveis.”

Ela celebra com orgulho a presença brasileira na última Bienal de Veneza, dirigida por Adriano Pedrosa, que destacou artistas LGBTQIA+, afros, indígenas e latino-americanos. No entanto, ela pondera: ainda há muito a ser feito pela inclusão e respeito no sistema das artes.

Sair da zona de conforto, entrar no mundo

A virada em sua vida aconteceu no momento em que decidiu sair da zona de conforto. “Aluguei um ateliê fora de casa. Dali tudo fluiu.” A partir disso, veio a construção de um novo espaço artístico, simbólico e existencial.

Seu conselho para novos artistas? “Se diferenciar, ser original e não ter medo de ser o que se é. Confiar no seu potencial. E se mostrar! Participar de eventos, frequentar galerias, ir aos vernissages.”

Ela reconhece que quem vive longe dos grandes centros enfrenta mais desafios, mas lembra que as redes sociais democratizaram o sistema da arte. “Hoje, estar presente no digital também é fundamental.”

Onde encontrá-la:


Quem quiser acompanhar Luciana pode segui-la no @lucianapretta, ou até visitar seu ateliê em Fondi, na Itália. “Ali vão me encontrar todos os dias... com uma boa taça de vinho”, brinca.

Pretta não é só uma artista. Ela é uma ponte entre a ancestralidade e o agora, entre o gesto infantil e a coragem adulta, entre o sertão da Bahia e o coração da arte contemporânea mundial.

Imagens que falam por si: deslize e aprecie a beleza viva nas obras da artista Luciana Pretta:













Por Raphaella Pessato | Revista Interagi